O Sagano Scenic Railway é um dos poucos passeios no Japão que nos encanta pela simplicidade. Nada de altíssima velocidade, luzes coloridas ou show pirotécnico. No trajeto entre a cidade de Arashiyama e Kameoka, na Província de Kyoto, o espetáculo é outro. E nos deixa impressionados, mais que qualquer neon ou robô humanoide!
Um percurso lento, feito por uma locomotiva com uma pegada retrô, bem ao estilo da Maria Fumaça da minha querida Tiradentes. Um trem quase mineiro, que segue vagarosamente por entre montanhas, margeando o curso do rio Hozugawa. A belíssima rota era originalmente operada pela empresa JR, a mesma responsável pelo gerenciamento do não menos famoso Shinkansen, o trem bala que também encanta os turistas do mundo inteiro. Mas nos anos 80 foi desativada e passou a funcionar como passeio turístico.
Esse trajeto entre a famosa Arashiyama e Kameoka é bem curtinho. São apenas 7 Km, percorridos em, aproximadamente, meia hora. Mas apesar da viagem ser rápida o passeio não é algo simples de se fazer. Primeiro por conta da dificuldade de conseguir um ingresso para o trem. De todas as atrações que visitamos no Japão essa é, de longe, a que tem a fila mais lotada para compra de ingresso. A sorte nossa foi que a nossa querida amiga Shelly, uma taiwanesa gente finíssima que conhecemos em Kyoto, nos deu a dica para começarmos nossa visita em Arashiyama comprando o bilhete.
E foi o que fizemos. Saímos de Kyoto bem cedinho, pegamos com o nosso JR Pass o trem da linha JR Sagano na Kyoto Station e, em 15 minutos, estávamos na Estação Saga-Arashiyama. Chegando lá seguimos as placas até a estação anexa, a Saga Torokko Station, de onde parte o trem cênico.
Até aí foi bem fácil. Mas na porta de entrada para a linha do trem cênico, uma fila gigantesca já tinha sido formada. Entramos nela e quase 1 hora depois conseguimos chegar ao guichê de venda. Ainda eram 10 da manhã e só conseguimos reservar assentos para às 4 da tarde, na penúltima viagem do dia. Detalhe: essa cabine abre diariamente às 8:30 da manhã, ok?
Pelo que pude perceber, as pessoas que estavam um pouco atrás de nós só conseguiram comprar para o dia seguinte. Pagamos 1.240 ienes (cerca de 12 dólares americanos) pelos dois bilhetes, já que esse trem turístico não aceita o JR Pass. Então, no dia de adquirir o seu bilhete, não fique enrolando na cama, ok? Saia cedo do hotel e garanta o seu lugar!
Por falar nisso, o outro “probleminha”, do qual a solução também é mérito da Shelly, nossa amiga taiwanesa, é onde se sentar no trem. A locomotiva é composta por 4 carros fechados e 1 carro totalmente aberto e com teto transparente. E outra: possui bancos posicionados nos dois sentidos.
O lugar ideal para você aproveitar o passeio em sua totalidade, seguindo as recomendações da Shelly, é comprar o bilhete para o vagão aberto, que é o carro número 5, do lado direito do trem e num banco virado para a frente da estrada, que são os bancos C ou D. Lembrando ainda que a reserva do assento C é para se sentar no corredor e a do D é para o melhor lugar de todos, a janela. Ou seja, se você tiver passeando sozinho, não dê bobeira: escolha um acento D, do lado direito e no vagão 5. Assim você terá a bela vista privilegiada garantida!
Então, fique atento a essas três dicas! Elas podem fazer do seu trajeto um espetáculo incrível ou um verdadeiro fracasso! Afinal, a graça do passeio está em aproveitar a paisagem, né? Portanto, ainda que seu inglês não seja muito bom, faça um esforço para se comunicar, entender tudo o que a atendente diz e fazer a reserva mais acertada.
Outro detalhe: te recomendo comprar apenas o ticket de ida. Isso porque o trajeto de volta é o mesmo. Você não vai ver nada de diferente, vai apenas gastar dobrado! Principalmente se você tiver o JR Pass. Com este ticket garantido, a melhor opção ao meu ver é ir para Kameoka de trem cênico e voltar para Arashiyama de JR Pass. Nós voltamos direto para Kyoto, usando o nosso JR Pass. Isso porque fizemos a penúltima viagem do dia do Sagano Scenic Railway e já tínhamos conhecido as atrações que queríamos ver em Arashiyama.
Outra dica valiosa: nós fizemos esse trajeto em novembro, o melhor mês para se aproveitar a viagem! Nessa época, as árvores das margens do rio Hozugawa estão enfeitadas por folhas amarelas, vermelhas e laranja, fazendo do colorido do outono um espetáculo à parte.
A desvantagem é que novembro já é um mês bem frio no Japão e nós viajamos num vagão aberto, ainda que numa velocidade similar ao de uma bicicleta. Mas o vento frio não foi problema! Estávamos bem agasalhados (e lindos!) de roupas e botas Fiero. Aliás, sempre falo da marca Fiero aqui, porque, além de ser uma empresa nacional, a qualidade dos produtos deles é impecável!
Ah, já ia esquecendo. Outra forma de você voltar de Kameoka para Arashiyama é de barquinho a remo, estilo canoa. Pela foto que tiramos do trem, essa travessia do rio Hozugawa parece bem bonita. Mas o bucólico passeio não nos atraiu. Primeiro porque dura cerca de duas horas. Depois porque o último horário de saída da embarcação de Kameoka em novembro é às 15:30. E, por fim, para descer o rio teríamos que desembolsar 4.100 ienes (40 dólares americanos) por pessoa. Achamos que não valia a pena e não nos arrependemos. Mas, pra quem gosta, deve ser uma belíssima experiência!
E apesar de não termos descido o rio também aproveitamos um incrível momento: o pôr do sol. Não sei pra você mas, pra mim, o fim do dia é mágico. Adoro a maneira como a luz se comporta no entardecer, sem falar no incrível resultado fotográfico.
Foi lindo terminar nossa passagem por Arashiyama ali, no Sagano Scenic Railway. E essa aura dourada me fez constatar o que já tinha ouvido falar: que essa Maria Fumaça estilosa é um dos passeios mais românticos do Japão. Eu concordo!