Difícil falar da capital da República Tcheca sem pensar em história. Cada canto da cidade tem uma origem curiosa e milenar. Praga é tão envolvente e culturalmente densa que nem precisamos entrar em museus para conhecermos detalhes da trajetória humana.
As ruas de pedra escura, as imponentes construções e até mesmo os traços comportamentais dos moradores ressaltam o que é claro perceber: Praga é um grande museu a céu aberto!
Arrisco afirmar que, de toda a Europa, Praga é uma das capitais que mais condensa (e exala) “informação”. Impossível ficar indiferente a esse espaço onde habita uma população que se envolveu em inúmeras guerras, inclusive nos dois grandes conflitos mundiais. E mais, não tem meio termo: ou você ama ou odeia.
Confesso que minha primeira impressão não foi das melhores. Talvez por um pré-conceito de saber que, até outro dia, Praga era uma das principais cidades comunistas da Europa. E o “peso” do regime, pode ser facilmente percebido. O povo é austero e o clima da cidade parece “carregado”.
Não sei se pelas pedras escuras que compõem as calçadas e prédios, os pelas intimidadoras estátuas ou, ainda, pelo simples fato desse patrimônio da humanidade (tombado pela UNESCO) ter sido cenário de importantes acontecimentos mundiais.
E não foram poucos. Aliás, é difícil assimilar a narrativa temporal da sede de um país que até outro dia se apresentava ao mundo como Tchecoslováquia, (a república formada em 1918, durante a primeira guerra mundial, pela criação dos estados independentes dos tchecos e dos eslovacos).
Independência que elevou Praga ao título de capital e fez da cidade uma das mais prósperas da Europa. Status que, infelizmente, não durou muito. Após 20 anos de democracia, em 1938, parte da Tchecoslováquia (onde viviam três milhões de pessoas de origem germânica) foi “cedida” à Hitler com a assinatura do Pacto de Munique.
O acordo firmado entre França, Reino Unido e Alemanha com o objetivo de conter os ânimos do führer acabou enfraquecendo a florescente república, deixando a Tchecoslováquia vulnerável à uma total ocupação alemã, fato que acabou se concretizando um ano após a assinatura do tratado.
Em 1939 (leia-se segunda guerra mundial), as tropas alemãs invadiram o restante do país e ocuparam Praga. A capital só não foi destruída porque, segundo os historiadores, Hitler se apaixonou pela arquitetura gótica da cidade.
Detalhe: durante o conflito, o Castelo de Praga foi a sede do governo alemão na Tchecoslováquia. A escolha do local foi uma demonstração do poder nazista já que a maravilhosa fortaleza medieval é o maior castelo do mundo.
Preservado desde a construção, no século IX, o castelo é uma mini cidade que abriga a esplendorosa Catedral de São Vito, o Convento de São Jorge, a residência do Bispo e o Palácio Real (que atualmente é a moradia oficial do presidente da República).
Protegida por Hitler, ainda assim a região sofreu, em 1945, o conhecido Bombardeio de Praga por parte dos Aliados. Segundo especialistas, o ataque aéreo teria sido acidental já que o alvo seria Dresden, a cidade alemã que fica a apenas 150 km de distância e que, vista do alto, se assemelha ao traçado de Praga.
Por conta desse ataque 701 habitantes morreram e quase 1200 ficaram feridos. Nos locais dos edifícios atingidos novos foram construídos. O mais famoso deles é a Casa Dançante, uma estrutura moderna de aço e vidro no centro de Praga que faz lembrar um casal de dançarinos.
O Relógio Astronômico de Praga, o mais antigo desse tipo em funcionamento no mundo (e outra grande atração da cidade), também foi parcialmente destruído durante os últimos dias da Segunda Guerra, tendo as esculturas de madeira e a face queimadas.
Mas, por conta da beleza e importância históricas a estrutura, fabricada em 1410, foi restaurada e até hoje está praticamente intacta. O Orloj (que, em tcheco, significa relógio) fica na Praça da Cidade Velha e é o único que marca três horários diferentes: o “Horário Babilônico“, o “Horário da Europa Central” e o “Horário Tcheco Antigo”.
Em 1945, com o fim do conflito mundial e a derrota da Alemanha na guerra, a república foi restaurada. Nesse período o Partido Comunista, consequentemente, se fortaleceu e, com o apoio soviético desencadeou, em fevereiro de 1948, o Golpe de Praga. E pelas quatro décadas seguintes o regime comunista ditou a vida do povo tchecoslovaco.
A “libertação” só veio 1989, com o colapso do modelo e o início da dissolução da União Soviética. Nesse ano a chamada “Revolução de Veludo” ocorrida na Praça Venceslau (bem pertinho da Casa Dançante) extirpou definitivamente o regime comunista do país, que voltou a ser a nação democrática tão sonhada em 1918.
Poucos anos depois, em 1993, a Tchecoslováquia foi dividida em duas, dando origem aos países República Tcheca (tendo Praga como capital) e Eslováquia (com a sede em Bratislava).
E é por conta de toda essa história que afirmo sem medo de errar: a bela cidade medieval da Europa Central não deve ser ignorada. É sim um roteiro indispensável a todos aqueles que entendem viagem como crescimento.
É parte significativa de um período difícil da história humana que não deve ser esquecido. Sentimento que, pra mim, ficou claro ao conhecer, por exemplo, o Cemitério Judeu de Praga, um dos mais antigos da Europa, fundado no século XV.
Foi bom ver as imensas paredes da Sinagoga Pinkas cobertas por nomes de judeus tchecos assassinados durante o Holocausto? Claro que não. Mas é importante a visita. Incomoda ver desenhos daquelas crianças que morreram sem nem saber o por quê? Muito. E é necessário que incomode para que isso não se repita.
E essa é a grande viagem: sair da zona de conforto e mergulhar numa cultura totalmente diferente da nossa. É usar o tempo livre para praticar o desconforto positivo, que abre a mente. Sem falar que perceber o mundo através dos elementos de um local que transpira história é muito bacana!
Mesmo porque Praga não é só tristeza. A cidade é linda e deixa claro porque sempre foi e é um dos centros culturais mais efervescentes da região. A capital da República Tcheca, fundada oficialmente no século IX, abriga desde 1348 a Universidade de Carlos, a primeira do país.
Aliás, difícil também falar de Praga e não citar Carlos IV. A Ponte Carlos (o monumento mais famoso da cidade) leva o nome do rei da Bohemia (também soberano do Sacro Império Romano) que governou a extinta Tchecoslováquia durante o século XIV.
Carlos IV tinha pensamento revolucionário. Formado pela Universidade de Paris, o rei teve como objetivo (e conseguiu) transformar Praga num importante centro cultural e artístico. Ele queria (e fez) de Praga a “Paris do Leste” . Com uma vida noturna agitada o “coração da Europa central” é, até hoje, conhecida pelas festas e baladas.
E por falar nisso, pra quem não sabe, Praga fica apenas 100 km de Pilsen, o berço da famosa cerveja de mesmo nome, fabricada na República Tcheca desde 1840. Por conta dessa tradição milenar, em Praga e em todas as cidades tchecas, o líquido dos deuses é de ótima qualidade e barato.
Pra se ter uma ideia uma caneca de cerveja artesanal (produzida de acordo com a Lei da Pureza) costuma custar menos que uma xícara de café! Difícil não querer experimentar todas as marcas, né? Eu, então, que venho de uma família de mestres cervejeiros, adorei a experiência!
Falando nisso, não é só a cerveja dourada que é barata não! Praga é um paraíso para os turistas por conta dos preços acessíveis de hotéis e restaurantes, das inúmeras atrações gratuitas (só pagamos para entrar no Museu Judeu) e pela grande desvalorização da moeda Tcheca (Coroa Tcheca) em relação ao Euro e ao Dólar.
Aliás a República Tcheca é um dos poucos países da União Européia a não fazer parte da Zona Euro. Por causa disso, uma dica importante pra você não perder dinheiro é trocar euros por coroas tchecas. Espalhadas por toda a cidade existem casas de câmbio legalizadas que realizam a conversão.
E andar pela cidade a pé é muito fácil e seguro. Praga tem um dos menores índices de criminalidade da região e é uma cidade muito romântica, principalmente no inverno. As feiras de artesanato são incríveis, principalmente para quem quer aprender ainda mais com os artistas locais. Visitamos a tradicional feira da Praça da República e adoramos!
E, antes que você pergunte, não se preocupe: você vai conseguir se comunicar muito bem por lá. Apesar da língua oficial ser o tcheco todos que trabalham no setor turístico falam inglês. E com o dinheiro trocado é só entrar no primeiro pub e comemorar!