Sumário
Montanhas e vulcões cobertos de neve. No inverno, o vento sopra incessantemente. E no verão, mesmo sob sol forte, a altitude extrema deixa o clima bem fresco. Ambiente perfeito para desfrutar belas paisagens, bons vinhos e ícones preciosos da cultura inca no Norte da Argentina.
“Silêncio, silêncio, silêncio! Aqui dentro se encontra o que o nosso ser supremo nos enviou: três crianças para a memória”. Os versos do poema aos “Niños de Llullaillaco” dão o tom de respeito e veneração diante do mais importante achado arqueológico da Argentina: os corpos de duas meninas e de um menino oferecidos, há mais de 500 anos, pelos povos incas como oferenda aos seus deuses. Encontrados em 1999 no topo do Vulcão Llullaillaco, a 6.730 metros de altitude e a uma temperatura de 36 graus negativos, essas crianças foram “mumificadas” pela neve e hoje, depois de descobertas, são o grande tesouro do Museu de Arqueologia de Alta Montanha (Maam), cuidadosamente montado na cidade de Salta, no Norte do país.
Através de um vidro espesso, responsável por manter as múmias nas condições ideais de temperatura e pressão, os visitantes podem ver os corpos do menino de aproximadamente 7 anos de idade, que foi encontrado sobre um altar, sentado com as pernas flexionadas, os punhos fechados e o rosto (voltado para o sol nascente) apoiado sobre os joelhos; a “niña del rayo”, uma menina de 6 anos, também com as pernas flexionadas e com parte do corpo queimado por um raio que a atingiu no topo do vulcão; e uma adolescente de 15 anos, batizada de Donzela, sentada com as pernas cruzadas, os braços apoiados sobre o ventre e o rosto voltado para a “niña del rayo”.
Além dos corpos em perfeito estado de conservação, foram encontrados dezenas de objetos usados no ritual inca de oferendas humanas, como placas de metais, tecidos, plumas, roupas, sandálias e até alimentos que, segundo a tradição daqueles povos, seriam usados pelas crianças no rito de passagem e na outra vida que eles alcançariam depois da morte. À primeira vista, tudo parece muito cruel e macabro aos nossos olhos, mas um grande acervo de textos e histórias do Museu de Arqueologia de Alta Montanha se encarrega de contextualizar o ritual e demonstrar aos visitantes toda a beleza dessas cerimônias.
Reza a lenda que as crianças mais bonitas de cada povo inca, normalmente os filhos dos “caciques”, eram eleitas como símbolo de pureza perante os deuses e oferecidas para serem sacrificadas como forma de pedir bênçãos às comunidades. Esses meninos escolhidos eram levados de diversas regiões do Peru, Bolívia, Equador e do Norte da Argentina e do Chile à Cusco (Peru), capital do império inca, para serem adoradas. E, depois dessas cerimônias, subiam em montes sagrados, como o Vulcão Llullaillaco, para serem ofertadas. Exames comprovam que, no alto do monte, as crianças ingeriam folhas de coca e álcool e, depois de adormecerem, morriam congeladas.
As condições climatológicas extremas fizeram com que os corpos dessas crianças fossem preservados durante cinco séculos e hoje possam ajudar pesquisadores e cientistas a entenderem melhor a cultura inca. Apesar da impecável montagem do museu (um dos mais interessantes que já visitamos no mundo), o Maam vive cercado de polêmicas e discussões, já que representantes das comunidades incas alegam que a retirada das múmias de um local sagrado e a sua exposição ao público são um desrespeito aos povos originários.
Em sua defesa, o Maam expõe uma quarta múmia em péssimo estado de conservação, a “Reina del Cerro”, que na década de 1920 teve a tumba violentada. O corpo, de uma menina de idade não identificada, foi vendido no mercado negro a colecionadores de obras de arte de Buenos Aires e, depois de oito décadas vagando por museus e antiquários sem os devidos cuidados de preservação, hoje está bastante deteriorada. Uma prova de que esse patrimônio cultural, sagrado aos povos incas e de uma importância histórica inquestionável para toda a humanidade, merece um tratamento especial.
Essa aula de história é apenas um dos capítulos da viagem d’A Casa Nômade ao Norte da Argentina. Nessa belíssima região, a estrada e suas infinitas curvas serpenteiam por entre paredões rochosos. O vento e a água esculpiram neles paisagens mágicas, que ficam ainda mais belas quando os paredões deixam de ter apenas a cor ocre e ganham coloridos mais alaranjados, vermelhos, brancos e até esverdeados. A Quebrada de Las Conchas, no Norte da Argentina, está na lista das estradas mais lindas das Américas e percorrer seus poucos mais de 60 quilômetros é um passeio imperdível. Seja no inverno ou no verão, o frio das altas montanhas é um charme à parte.
A viagem começa por Cafayate, a capital do vinho no Norte do país. Dezenas de vinícolas oferecem visitas guiadas, como a Bodega Domingo Molina, que preserva o charme de uma vinícola boutique com uma produção pequena, mas de muita qualidade. De seus vinhedos e tonéis, saem anualmente 400 mil litros de vinhos, alguns deles que chegam a ficar até 14 meses em barris de carvalho. Vale a visita e uma boa degustação nos jardins da bodega!
Para se hospedar, a melhor opção é o Grace Cafayate, um oásis em meio do deserto do Norte da Argentina. E, à noite, a pacata Cafayate oferece opções sofisticadas de jantar na Pacha Resto Bar e no Terruño Gourmet. Quem quiser uma pedida mais regional, com empanadas, locro e músicas saltenhas, precisa visitar a Casa de Las Empanadas.
Saindo de Cafayate em direção a Salta, a primeira parada é em Los Colorados, onde cactos e plantas sem folhas, mas de caules muito verdes, ornamentam a paisagem. A estrada segue por mirantes e vales que remetem à Lua ou a Marte até chegar em suas principais atrações: o Anfiteatro e a Garganta do Diablo, incríveis formações resultantes de fissuras geológicas e da ação do vento nos rochedos.
Já em Salta, se presenteie com uma visita ao José Balcarce Bistrô. Nas revistas de viagem e gastronomia, o restaurante desponta como referência. Em sites como o TripAdvisor, são cinco estrelas e muitos floreios para elogiar os pratos. E, ao vivo e em cores, podemos dizer que o José Balcarce Bistrô é tudo isso e muito mais! O restaurante comandado pelo chef Matias Alvarez é incrível, com uma cozinha super moderna que usa apenas ingredientes andinos para produzir pratos sofisticadíssimos. Discípulo de Alex Atala, do famoso DOM, de São Paulo, Matias se orgulha por receber cada cliente na porta e se desdobrar entre o salão do restaurante e a cozinha. Divino!
Seguindo viagem em direção ao extremo Norte da Argentina, prepare os olhos! Morro das Sete Cores, Cerro Paleta do Pintor, Montanha das Quatorze Cores, Caminho El Colorado… Os nomes já dão pistas de que o cenário vai ser estonteante! Mas mesmo esperando por muito colorido e belezas, as serras da Quebrada de Humahuaca surpreendem os visitantes.
A primeira parada é no povoado de Punamarca, com pequenas casinhas incrustadas na montanha que exibe ao fundo um degradê do vermelho ao ocre, com pinceladas verdes. Incrível! Maimará e Tilcara são os próximos atrativos, ambas com montes coloridos e ruínas incas.
Lá no alto das montanhas, não deixe de visitar o Paque Nacional de Los Cardones, onde a agência Norte Trekking nos convidou para uma caminhada de uma hora de duração por uma trilha deserta para chegar ao pico de onde se contempla o voo dos condores andinos. De volta à área comum do parque, a Norte Trekking serviu um delicioso piquenique vegetariano e seguimos viagem pela paisagem desértica do parque, onde os minerais colorem as montanhas e dunas e os cactos pontuam de verde o cenário. Tudo simplesmente maravilhoso!
Do alto da Cuesta del Lipan, a 4170 metros de altitude, se avista no horizonte uma imensidão branca. É sal, sal, sal e muito sal o que compõe as Salinas Grandes, uma das paisagens mais incríveis da Argentina, aos pés da Cordilheira dos Andes. Quem viaja pelo Norte do país a caminho do Deserto de Atacama, no Chile, vai se deparar com o deserto de sal a poucos quilômetros da divisa. Por favor, estacione o carro e faça um belíssimo passeio pela região, com os ótimos guias locais.
As Salinas Grandes têm mais de 250 quilômetros quadrados de área e, logo depois de percorrer quatro quilômetros em seu interior, é possível contemplar as lindas lagoas naturais que se formam na paisagem. Nascentes de água doce e cristalina borbulham na água, que acumula cristais de sal em suas margens e refletem o azul do céu e as longínquas montanhas do horizonte.
Ao longo do passeio, cruza-se com piletas, usadas para a extração de sal para consumo humano e animal.
À noite, a lua cheia ilumina as Salinas Grandes e, com o reflexo branco do sal, a paisagem parece dia. É preciso madrugar para, pouco antes do nascer do sol, flagrar o céu cravejado de estrelas!
O que usar durante uma viagem ao Norte da Argentina
Se engana quem pensa que as paisagens secas e sem o branco da neve significam calor, durante o inverno na região é possível experimentar temperaturas muito baixas! Claro, o frio do Norte da Argentina não pode ser comparado ao do inverno na região da Patagônia, mas é essencial que você organize sua bagagem da forma adequada.
Durante nossa visita à região no inverno de 2017, as temperaturas eram amenas! Por isso, optamos por roupas térmicas combinadas com uma jaqueta com enchimento em pluma de pato e um casaco em fleece. Nos pés, botas super confortáveis e forradas em lã sintética para garantir o aquecimento e conforto necessários para as caminhadas. Para esta viagem selecionamos os modelos Jasper e Ushuaia. Optamos também por uma meia especial para proteger os pés durante longas aventuras em dias frios. Este kit de inverno completo e muito mais, você encontra na loja virtual da Fiero, marca brasileira especializada em produtos para inverno, frio intenso e neve!