Foram 68 dias no Alasca e, em todos eles, repetimos a mesma frase: “quando voltarmos aqui…”. Impressionante como, mesmo antes de ir embora, os planos já eram de retornar a essa terra, que se tornou mais que um simples marco na nossa expedição pelos extremos das Américas. Nos apaixonamos pelo 49° estado norte-americano e, cá no fundinho do coração, guardamos a vontade de um dia chamá-lo de casa.

Mas por que tanto encantamento? Será que foi o balé da Aurora Boreal a colorir de verde e roxo os céus do Alasca? Serão os ursos a devorarem salmão na beira dos rios? Quiçá seja o êxtase de assistir ao desprendimento de icebergs, entrar em cavernas de gelo, sentir um arrepio ao raspar o caiaque e seu remo nos blocos congelados. E não pense que o frio nos impediu de curtir o melhor da viagem, estávamos bem preparados com nossas roupas, acessórios e botas Fiero! Quer saber como preparar sua mala para uma viagem a este destino que tanto assusta os mais sensíveis às baixas temperaturas? Clique aqui!

Cruzar a Última Fronteira das Américas era um sonho que nos “perseguia” há quatro anos, desde que começamos a viagem com A Casa Nômade no Brasil, e depois, fomos à Patagônia, o extremo oposto do continente. Planos se acumulavam enquanto éramos movidos por um único desejo: desbravar essa terra que já cobrou a vida de aventureiros (como Chris McCandless, inspiração para o livro e o filme Into The Wild – Na Natureza Selvagem) e a reputação de políticos norte-americanos, como o secretário de Estado William Henry Seward. Foi Seward quem conduziu, nos idos de 1867, a negociação com o Império Russo para a compra do Alasca por 7,2 milhões de dólares (hoje equivalente a 100 milhões de dólares). A operação, considerada extravagante e alvo de impiedosas piadas, foi batizada de “A loucura de Seward”, mas, passados mais de 150 anos, ela se revela como um dos negócios mais rentáveis da história.

O território de 1,5 milhão de metros quadrados se mostrou muito mais que um pedaço de terra gelada: ouro, petróleo e, agora, o turismo fazem do Alasca uma poderosa economia – tão rentável que seus habitantes (com mais de um ano de residência) recebem cerca de 2 mil dólares de presente do governo por ano, como resultado da distribuição dos lucros e royalties do petróleo.

Isso sem falar da importância estratégica do Alasca, do ponto de vista militar. Com o início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, mais especificamente com o bombardeio de Pearl Harbor pelos japoneses em 1941, o Alasca se tornou um posto militar de valor inestimável para que tropas, radares e aviões americanos estivessem praticamente na “porta” da Rússia. Nessa época, não se pouparam esforços para a construção da Alaska Highway. Com apenas 8 meses de obras, foram abertos 2.394 quilômetros de rodovia. Um trabalho feito por 25 mil homens dos Estados Unidos e Canadá, nas piores condições possíveis (frio extremo, solo congelado, mosquitos e isolamento absoluto). E foi por essa lendária estrada que chegamos ao tão sonhado 49º estado norte-americano.

Começamos nossa viagem pela cidade mais encantadora: Valdez, batizada de Alpes das Américas. Rodeada por montanhas e geleiras, a cidade, que foi totalmente destruída por um terremoto e um tsunami na década de 1960, foi reconstruída para impressionar os visitantes e é dali que partem cruzeiros e veleiros para inesquecíveis passeios no Golfo do Alasca, mais precisamente na região conhecida como Prince William Sound. Prepare-se para admirar o salto das baleias, leões-marinhos, focas e aves marinhas nos glaciares Meares, Columbia e Shoup.

Alasca Valdez

Dali, pegamos estrada para chegar ao Parque Nacional Wrangell – Saint Elias, o maior parque norte-americano e onde estão localizados 9 dos 16 picos mais altos do país. As joias da região são a antiga mina de cobre de Kennecott e a cidade de McCarthy, cenário da série Edgesof Alaska, do Discovery Channel. Praticamente abandonada depois do fim dos trabalhos na mina de Kennecott e assombrada por um assassinato em série na década de 1980, McCarthy hoje atrai visitantes curiosos com esse passado sombrio e também fãs do seriado e de seu artista, Neil Darish, dono do principal hotel do vilarejo.

No Vale Matanuska-Susitna, a surpresa é o Glaciar Knik, acessível apenas por veículos off-road e rodeado por um lago e pelas charmosas Fireweed, flores roxas que dominam a paisagem de verão no Alasca. O Musk-Ox, um animal da Era do Gelo que há 600 mil anos habita as terras próximas ao Polo Norte, também vai cruzar seu caminho neste vale, especialmente na cidade de Palmer.

Glaciar Knik Alasca

Depois de cruzar Anchorage, a maior cidade do Alasca (com cerca de 300 mil habitantes), é hora de se maravilhar com a Península Kenai. A aventura começa em Girdwood, onde embarcamos no trem da Alaska Railroad para percorrer, em vagões de dois andares e teto panorâmico, um roteiro cênico que nos levou ao Glaciar Spencer. Lá, os caiaques da empresa Chugach Adventures nos permitiram remar por entre icebergs e sentir um frio na barriga ao raspar o fundo do caiaque nos blocos de gelo. Parada obrigatória no Alaska Wildlife Conservation Center, onde animais feridos ou órfãos são resgatados e recebem cuidados especiais até serem devolvidos à vida selvagem.

Animais Alasca

Finalmente, chegou a hora de visitar o Parque Nacional Kenai Fjords, onde o mar encontra, de forma abrupta, montanhas e geleiras. Seward é a porta de entrada para o parque e de onde saem passeios incríveis para avistar vida selvagem, ver de perto os glaciares Aialik e Holgate e para caminhar, com grampões na bota, sobre o Glaciar Exit e suas cavernas de gelo.

Glaciar Exit Alasca

No caudaloso Rio Kenai, nos aventuramos em um rafting para admirar a beleza das águias e a paciência de milhares de pescadores, ambos à espera do salmão. Mas foi em Homer, na capital da pesca no Alasca, que fomos ao mar com o experiente guia Daniel para manusear iscas, anzol e vara para tirar da água o salmão-rei em um legítimo dia de pescaria. A cidade de Kenaie a vila de Ninilchik surpreendem com antigas igrejas ortodoxas russas, construída por imigrantes que chegaram ao Alasca nos idos de 1847.

No Parque Nacional Denali, cuidado por onde pisa! Sob seus pés, há sempre um colorido jardim de fungos, musgos e líquens explorados nos passeios com a guia Mollie Foster (autora de um guia da National Geographic e sócia da empresa Traverse Alaska). Levante os olhos para contemplar a fauna, rica em alces, veados e ursos, e deixe a vista se perder na imensidão do Monte Denali, a montanha mais alta da América do Norte.

Alasca Parque Denali

Agora prepare-se, pois o melhor do Alasca ainda está por vir: Aurora Boreal. O balé das luzes, formado por tempestades solares que se chocam com a alta atmosfera da Terra e cria esse fenômeno óptico, é o espetáculo mais lindo e delicado da natureza. Fachos de luz verde, roxa e avermelhada colorem os céus, em uma dança que pode durar segundos ou até horas. Para avistar a Aurora Boreal, o melhor lugar do Alasca é a Chena Hot Springs Resort, que permite ver o espetáculo de dentro de suas piscinas aquecidas ou em uma linda cabana de montanha, acessível apenas com veículos de neve.

Alasca Aurora Boreal

Para ver outro show da natureza selvagem no Alasca, ursos pescando salmão na beira dos rios, é preciso pegar estrada e ir até a cidade de Haines. Em um impressionante ciclo de vida e morte, quatro espécies de salmão nascem no Lago Chilkat e, depois de alguns anos no mar, retornam ao exato ponto onde nasceram para acasalar, colocar seus ovos e, em seguida, morrer na água doce. Já exaustos na reta final desta maratona, os peixes se tornam presa fácil para o banquete de ursos e águias em Haines.

E para fechar a viagem com chave de ouro, nada melhor que a emoção de cruzar o Círculo Polar Ártico – apenas uma linha imaginária no mapa mundi, mas um grande desafio para quem se aventura a chegar até lá de carro.  O Círculo Polar Ártico é o ponto alto da estrada Dalton Highway, uma rodovia com distâncias infinitas, alternância entre poeira e ondas no asfalto (resultado da construção sobre o solo congelado, o permafrost), florestas de tundra nas margens e a companhia constante do oleoduto Trans-Alasca, com seus 1280 quilômetros de extensão. Para dar mais emoção ao passeio, a dica é ir ao círculo de carro e retornar à cidade de Fairbanks de avião, sobrevoando a imensidão de gelo à beira do Polo Norte.

Alasca Dalton Highway

Esperamos que este post tenha ajudado na organização do seu roteiro de viagem ao Alasca. Ficou com alguma dúvida ou quer saber mais a respeito de algum assunto? Entre em contato conosco através dos comentários!